segunda-feira, 1 de junho de 2009

Marcel Proust, ilustre morador da quadra entre as avenidas Thuias e Transversale, número 2, no Pére Lachaise



Marcel Proust, ilustre morador da quadra entre as avenidas Thuias e Transversale, número 2, no Pére Lachaise, constatara, no olho do furacão daqueles tempos perdidos, que a verdadeira viagem do descobrimento não consistiria em ver novas paisagens, mas sim, ver as mesmas paisagens com novos olhos. Os infalíveis olhos da alma.

Quando os jornais da época, como o brasileiro Jornal do Commercio, os franceses L’Illustration, La Nature e Le Matin ou o americano New York Herald, entre tantos outros, publicavam matérias como “O Senhor Santos-Dumont não deseja construir aeroplanos para vender”; “Não requererá patente”; “Põe o modelo à disposição de todos” talvez não se imaginasse que os ventos do litoral em breve soprariam trazendo tempos difíceis, tempos de incerteza, e o cheiro da morte e do fim das ilusões de toda uma época. Mas isso estava além de todas as vontades que Santos-Dumont pudesse ter.

Aquelas acusações que sofreu, no final, não deram em nada. O mal-entendido logo seria desfeito. Alguns pertences confiscados naquele dia nefasto, em que as tropas invadiram sua casa, foram logo devolvidos. Mas aqueles momentos de extrema amargura só pioraram sua já debilitada saúde mental. Os pedidos formais de desculpas provenientes do governo francês foram completamente ignorados, pois o estrago literalmente já estava feito.

Do Capítulo 4 do romance Santos-Dumont Número 8: O Livro das Superstições, de C. S. Soares

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